16 de ago. de 2024

Todo o trabalho merece ser remunerado de forma justa


Como instrutor/mestre (Treinador) de karate, é frequente deparar-me com um dilema que muitos colegas também enfrentam: a questão do dinheiro e a percepção que alguma parte da comunidade tem sobre ganhar a vida a ensinar karate. Em Portugal, falar sobre dinheiro é muitas vezes considerado tabu, especialmente no karate, onde a paixão e a tradição são colocadas num pedestal acima das necessidades financeiras.

É importante entender que ensinar karate é um trabalho como qualquer outro. Assim como qualquer profissional, um treinador investe tempo, energia e recursos na sua formação. As aulas de karate não apenas envolvem a transmissão de técnicas, mas também a construção de valores, disciplina, e o acompanhamento do crescimento pessoal de cada aluno. Esse processo exige um compromisso que vai além das horas passadas no dojo.

Vivemos numa sociedade onde falar sobre dinheiro, pode ser visto como algo indecoroso ou até mesmo ganancioso. Isso cria um estigma que desvaloriza o trabalho dos treinadores e perpetua a ideia de que ganhar a vida a ensinar karate é algo que não deveria ser feito. Essa visão é insustentável, para que um treinador possa continuar a oferecer aulas de qualidade, é essencial que ele tenha segurança financeira. Essa segurança permite que ele invista na sua formação contínua.

Para que possamos mudar essa mentalidade, é necessário desmistificar a ideia de que ganhar dinheiro como treinador de karate é algo negativo. É preciso que se entenda que ao pagar uma mensalidade, não se está apenas a adquirir um serviço, esta-se a investir numa experiência que pode transformar a forma como os praticantes e os que estão à sua volta vêem o mundo.

Assumir que um treinador de karate ganha dinheiro é um reconhecimento de que todo o trabalho merece ser remunerado de forma justa, como qualquer outro serviço prestado por profissionais em diversas áreas.
Só assim poderemos fortalecer o karate, oferecendo ensino de qualidade e formando cidadãos que carregam os valores desta prática para a vida.

20 de jul. de 2024

Congelados no tempo.


Infelizmente, muitos parecem congelados no tempo, presos a métodos de ensino que não evoluíram com as necessidades e expectativas da sociedade atual. Alguns não estão dispostos a mudar, seja por convicção pessoal, hábito ou simplesmente por falta de conhecimento sobre como adaptar as suas técnicas de ensino. Outros talvez nem saibam como fazer essas mudanças. A resistência à mudança cria fossos entre gerações. 


Enquanto os videojogos oferecem uma gratificação instantânea, cada nível completado, cada inimigo derrotado, e cada item recolhido fornecem uma sensação imediata de realização, no karate, alcançar um novo cinto ou dominar uma sequência complexa, requerem paciência, persistência e resiliência.


As novas gerações são atraídas por objetivos a curto prazo, que dão uma sensação de progresso e sucesso sem necessidade de investimento prolongado de tempo, dessa forma o karate enfrenta um desafio significativo em atrair e manter as novas gerações, que estão habituadas à recompensa imediata proporcionada por uma sociedade de consumo imediato. 


As novas gerações procuram métodos mais dinâmicos e recompensas mais imediatas, semelhantes às que encontram nos videojogos. Para que o karate prospere e consiga atrair as novas gerações, acredito que seja crucial que se reconheça a necessidade de evolução e adaptação nas abordagens de ensino.


A meu ver, a chave para atrair as novas gerações para o karate, está em comunicar efetivamente os benefícios únicos e adaptar as práticas de ensino, incorporando elementos que satisfaçam tanto as necessidades de gratificação imediata quanto os objetivos de desenvolvimento a longo prazos.

15 de jul. de 2024

Karate e música

Com o passar dos anos e também devido à "mudança" das dinâmicas das redes sociais, fui largando este blog. Vou fazer um esforço para manter isto atualizado :P



Comparar karate e música é das melhores analogias possíveis, pois ambos os campos são vastos, diversificados e profundamente influenciados por contextos culturais e históricos. Assim como cada estilo de música tem sua própria identidade, nuances e propósito, cada estilo de karate possui características únicas que o distinguem dos demais.

O karate evoluiu de uma forma diversa e dispersa. Pode ser praticado por vastos grupos de pessoas ... desde uma idade muito jovem até uma idade não tão jovem.

Assim como os diferentes estilos musicais têm suas próprias audiências e propósitos, as várias práticas de karate servem diferentes necessidades e interesses dos praticantes. Nenhum estilo de música é inerentemente superior
aos outros; cada um tem seu próprio valor e beleza, dependendo do contexto e da perspetiva do ouvinte. Da mesma forma, cada prática de karate tem suas próprias forças e contribuições, e o valor de um estilo depende apenas da dedicação do praticante.
O karate é uma atividade dinâmica que fomenta o crescimento pessoal e adaptação, e a excelência de um praticante reside na dedicação, habilidade e entendimento, em vez do estilo específico que pratica, ou organização onde está inserido.
Abraçar a diversidade é crucial, pois os diversos estilos trazem “insights” únicos, técnicas e metodologias de treino. O “Cross Training” e a manutenção de uma mente de principiante (Shoshin) melhoram significativamente as habilidades em áreas onde se pode ter alguma deficiência.
O estilo, ou mesmo a organização é irrelevante – é a pessoa, como ela treinou, as suas habilidades, as suas capacidades e o seu conhecimento, essas são as qualidades que contam.
Ao abraçar a diversidade tanto na música quanto no karate, podemos apreciar a riqueza de cada forma e aprender uns com os outros, expandindo nosso entendimento e habilidades de maneiras que nunca imaginaríamos.
Em última análise, a mentalidade de “O meu karate é melhor que o teu” surge de uma má interpretação sobre o que o karate realmente representa.

Todo o trabalho merece ser remunerado de forma justa

Como instrutor/mestre (Treinador) de karate, é frequente deparar-me com um dilema que muitos colegas também enfrentam: a questão do dinheiro...